Prevenção de lesão por pressão: tudo o que você precisa saber

Investimento em equipamentos de prevenção gera economia nos hospitais

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Em relação às constantes mudanças sociais, epidemiológicas e organizacionais, a qualidade no setor da saúde é um fenômeno que se transforma de acordo com as necessidades do homem e do mercado. A segurança do paciente deve ser foco das ações gerenciais das organizações de saúde para garantir o bem-estar e evitar lesões por pressão (LP). A LP é um problema de saúde pública mundial que além de causar piora na qualidade de vida dos pacientes, aumenta o custo do sistema de saúde.

Segundo a especialista em Enfermagem Dermatológica Mariana Takahashi Ferreira Costa*, “a LP é um dano localizado que acomete a pele e tecidos subjacentes comumente como resultado da pressão exercida pelo peso corporal projetado sobre as proeminências ósseas e consequentemente sobre a pele e tecidos subjacentes, que encontra na superfície de apoio a pressão na direção contrária, o que ocasiona a interrupção da circulação local e consequente morte tecidual. Além das proeminências ósseas, dispositivos médicos e objetos localizados entre a pele e a superfície de apoio também podem resultar em LPs. Hoje sabemos que a exposição prolongada às forças que ocasionam deformação sustentada da pele (cisalhamento), que é o que acontece quando “escorregamos” na posição sentado na cama, bem como o microclima da pele tem participação no desenvolvimento destas lesões”, destacou.

A LP além de causar dor pode gerar complicações. “A presença de uma lesão aumenta a demanda por nutrientes e o esforço do organismo, que direciona parte de sua energia para a cicatrização além de colocar o paciente em risco para uma infecção, pois uma ruptura na pele é uma porta aberta para a invasão por micro-organismos”, alerta Mariana.

O Brasil integra a Aliança Mundial para a Segurança do Paciente, proposta pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em que o principal objetivo é instituir medidas que aumentem a segurança e a qualidade dos serviços de saúde. A prevenção de LP constitui a sexta meta entre as metas Internacionais para segurança do paciente. 

Como evitar a lesão por pressão em ambiente hospitalar

Alguns pontos são fundamentais para evitar que este tipo de lesão apareça no paciente, que vão desde a capacitação da equipe para a realização da avaliação do risco de

desenvolvimento da LP. Para Mariana Takahashi, a capacitação da equipe multidisciplinar envolvida na assistência a estes pacientes, bem como da rede de apoio (familiares e cuidadores) é fundamental e recomendada pelos consensos. As pessoas com mais riscos de desenvolverem a lesão são aquelas com uma condição que limita a mudança de posição. “A baixa mobilidade é o principal fator de risco, podendo ocorrer em qualquer idade”, confirma Mariana. Após identificado os indivíduos nessas condições, as estratégias são analisadas de acordo com a classificação de risco.

“Invariavelmente envolvem o alívio da pressão por meio de mudança de decúbito, posicionamento adequado evitando aumento da pressão local, uso de superfícies especializadas de redistribuição da pressão, controle do microclima da pele de forma a evitar situações que possam ocasionar o rompimento da pele, bem  como manutenção da hidratação oral e tópica, higiene corporal com especial atenção à área de fraldas, evitar acúmulo de umidade com o uso de formadores de barreira e coberturas absorventes, adequação da nutrição para evitar o rompimento da pele  e favorecer a cicatrização”, explica Takahashi. 

Acessórios hospitalares

Segundo a OMS, o investimento na melhoria da segurança do paciente pode levar a economia financeiras significativas, além da qualidade de vida para o paciente. Isso porque o custo da prevenção é menor que o custo do tratamento devido a danos.

“Entre os dispositivos recomendados pelos consensos estão os colchões de espuma reativa de alta especificidade, as superfícies de apoio de redistribuição da pressão não motorizadas e superfície que proporcione redistribuição da pressão, redução do cisalhamento e o controle do microclima, variando a indicação de acordo com o risco”, orienta Mariana.

Dicas de prevenção para a equipe assistencial

Segundo Mariana, “a equipe deve realizar sistematicamente a avaliação de risco de todos os pacientes no momento da admissão, reavaliação e inspeção da pele em frequências diárias. Realizar higiene corporal com especial atenção à área de fraldas, que deve ser feita de forma suave, com uso de água morna e produtos específicos. Fazer hidratação diária da pele para manter integridade e resistência. Aliviar a pressão com mudança de decúbito e redistribuição da pressão. Adotar medidas para controle da temperatura ambiente, além da troca frequente de fraldas. Proteção das proeminências ósseas com coberturas especializadas que evitem cisalhamento, redistribuam a pressão e controlem o microclima”.

Treinamento e atualização da equipe de saúde

Além do investimento em equipamentos e acessórios especializados no combate a LP é fundamental capacitar os profissionais para o bom uso dos aparelhos. “A educação da equipe multidisciplinar é a principal medida a ser adotada pelas instituições, com constante atualização e divulgação de seus protocolos. Nenhum investimento em equipamentos e dispositivos terá efeito preventivo se a equipe assistencial não souber quando, como e porque utilizá-los”, concorda Mariana. Para ela, “dispositivos altamente especializados interferem positivamente na prevenção, mas somente quando utilizados como suporte à assistência”.

Algumas ações da gerência de enfermagem são importantes para a capacitação dos colaboradores na LP. “Atualizar constantemente os protocolos institucionais de acordo com consensos e recomendações do Programa Nacional de Segurança do Paciente e divulgar para toda a equipe assistencial por meio de educação periódica. Ações em conjunto com as sociedades de especialistas e o envolvimento da instituição em ações mundiais como o ‘Dia Mundial de Prevenção às Lesões por Pressão’ podem aumentar o interesse e compromisso da equipe com as ações propostas”, finaliza.

*Mariana Takahashi Ferreira Costa

Mestre em Ciências – Alterações da Integridade Mucocutânea – UNIFESP
Especialista em Enfermagem Dermatológica – SOBENDE 
Pesquisadora do Núcleo de Pesquisas CUIDAR-TE/UNIFESP
Organizadora do livro Feridas – Prevenção, Causas e Tratamento
Consultora, palestrante – Cicatrização, Podiatria, Diabetes
Presidente do Grupo de Prevenção e Tratamento de Feridas – IIER
Supervisora – Ambulatório de Especialidades – IIER
Membro do Departamento de Podiatria – SOBENDE

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